Testamento Vital: o direito de escolher uma despedida digna

Testamento Vital: o direito de escolher uma despedida digna.

Falar sobre a morte de um ente querido ou mesmo sobre a finitude da própria vida não é fácil, mas é uma realidade inevitável para todos nós.

No final de 2023, minha família sofreu a perda de uma pessoa muito querida, cuja serenidade diante da situação superou a de todos nós, inclusive a minha. Com uma acessibilidade nobre e bela, ela abraçou sua doença e a finitude da vida de uma forma que nos emocionou e, ao mesmo tempo, desafiou nossa própria compreensão.

Com sua partida precoce – apenas 3 meses após o diagnóstico – mergulhei na dor da despedida e busquei conforto na leitura do Livro A Morte é um Dia que Vale a Pena Ser Vivido”, da médica Dra. Ana Cláudia Quintana Arantes.

O livro propõe uma reflexão sobre a finitude e a importância de fazer escolhas conscientes sobre o final da vida. Mas como garantir que nossos familiares respeitem nossa vontade e não nos submetam a tratamentos dolorosos ou a um longo período de acamamento sem perspectiva de partida? A meu ver, essa é a pior prisão que um ser humano pode enfrentar.

Esse pensamento se alinha diretamente com o conceito do testamento vital, um instrumento jurídico que garante a manifestação antecipada da vontade do paciente sobre tratamentos médicos em situação de doença grave e irreversível.

No Brasil, sua validade decorre dos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da autonomia privada, embora não haja uma lei específica regulamentando o tema.

No livro, a autora enfatiza a importância de um olhar humanizado sobre a terminalidade da vida, argumentando que a medicina nem sempre deve priorizar a manutenção biológica a qualquer custo. O testamento vital surge como um mecanismo para evitar procedimentos, muitas vezes,  ineficazes e preservar a dignidade do paciente, garantindo que sua vontade prevaleça mesmo quando não possa mais expressá-la, permitindo ao indivíduo assumir o controle sobre suas escolhas no fim da vida.

Muitas pessoas evitam planejar sua morte, deixando familiares sobrecarregados com decisões difíceis em momentos de vulnerabilidade emocional. A conscientização sobre o tema pode transformar a forma como lidamos com o fim da vida, tornando-o um processo mais digno e respeitoso.

É fundamental que haja maior disseminação do conhecimento sobre o testamento vital, tanto no âmbito jurídico quanto no médico e social. Ao garantir que as escolhas individuais sejam respeitadas, promovemos não apenas a autonomia do paciente, mas também uma abordagem mais humanizada para a finitude da vida.

Planejar o futuro não se resume apenas a bens materiais, mas também à forma como queremos ser cuidados nos momentos mais delicados da vida.

Ao formalizar sua vontade por meio do testamento vital, você evita decisões difíceis para seus familiares e garante que sua jornada final seja conduzida de acordo com seus valores e desejos.